IA e o conceito de tarefa no futuro da sala de aula
O que vamos esperar de nossos alunos?
Bem-vindos a mais uma edição da IAEdPraxis, sua fonte de informação para explorar os caminhos da Inteligência Artificial aplicada à Educação.
Nesta semana, vamos explorar como o conceito de tarefa pedagógica é essencial a nossa discussão.
IA em Foco
Por Marcelo Sabbatini
Algumas reflexões sobre como os estudantes estão usando o chatGPT, tiradas de um artigo publicado recentemente:
"É preciso dizer que não se trata aqui de identificar o culpado e aplicar‐lhe o devido castigo. A prática [...] já vem sendo legislada e sem dúvida deve ser combatida enquanto recurso para obtenção de sucesso acadêmico, seja ele em que nível for".
"Ao contrário, nossa preocupação é entender tal questão pelo lado pedagógico, perceber seu contexto e buscar alternativas neste campo para a sua superação".
"Por outro lado, é possível perceber que tal prática não é exatamente uma novidade no campo educacional [... ] As gerações são diferentes, mas as práticas são muito semelhantes".
"Onde está então o problema? Em primeiro lugar, é forçoso dizer que se o paradigma que subjaz a prática docente não se alterou, não é possível pensar em outros significados para esta situação".
"O problema, portanto, está em receber um trabalho deste tipo como resultado de uma proposta pedagógica. Deste modo, ao receber tal trabalho o professor deve se perguntar sobre o que foi proposto ao aluno e o modo como isto foi feito".
"A proposta pedagógica deve orientar a prática pedagógica. Assim, preocupar‐se com o processo de produção do conhecimento por parte do aluno é elemento central para a consecução de uma proposta que vise valorizar o aluno como autor. Neste sentido, ao receber tais trabalhos deve‐se solicitar ao aluno que explicite seu processo de produção do conhecimento".
Atual, não é? Atualíssimo, eu diria. Só tem uns detalhes: o artigo é do longínquo ano de 2008 e trata da "geração Ctrl C + Ctrl V", a partir de uma discussão sobre autoria e identidade na cultura digital. Isso mesmo, antes de chatGPT et al. a Educação já estava apavorada com o "copia e cola". O autor é o professor Sergio Abranches, colega de departamento e da Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica da UFPE.
Ou seja, tecnologia vai, tecnologia vem e coletivamente ainda não enxergamos o "X" (com trocadilho) da questão que é o conceito de educação - e de práticas pedagógicas associadas que desejamos e precisamos.
Então...como pensar práticas pedagógicas autênticas e significativas num cenário onde a IA está cada vez mais presente?
Referência
ABRANCHES, Sergio. O que fazer quando eu recebo um trabalho CRTL c + CTRL V? Autoria, pirataria e plágio na era digital: desafios para a prática docente. In: 2o Simpósio Hipertexto de Tecnologias na Educação, Recife, 17 set. 2008. Anais eletrônicos. Recife: NEHTE, 2008. [acesso ao texto]
IA em Ação
Bola fora para a OpenAI e seu CEO, Sam Altman. No momento em que o mundo todo questiona a ética da Inteligência Artificial, incluindo o uso indevido de propriedade intelectual para o treinamento dos modelos, a polêmica envolvendo a voz da atriz Scarlett Johanson foi completamente desnecessária. Ainda mais por que o filme Her, que, segundo o executivo, aproximaria a experiência de uso da IA para o público geral, tem uma interpretação bastante crítica do impacto da tecnologia.
Quem diria que um broche eletrônico, custando 700 dólares mais 24 dólares de assinatura (aproximadamente 3.600 e 125 reais, respectivamente), com a função de gravar sua vida toda, daria errado? Acho que todo mundo, menos os executivos da Humane, que agora cogitam a venda da empresa, depois do fracasso retumbante. É o que dá desconsiderar o elemento humano, o usuário e sua cultura, em prol da tecnologia pura e dura.
IA em Prática (ou desPrática, no caso)
A North Carolina State University deixa bem claro: você até pode usar a ferramenta anti-plágio, mas não há garantia nenhuma de que vai funcionar. Então o caminho talvez seja pensar tarefas "dificultem" os alunos utilizarem texto gerado artificialmente (ou simplesmente copiado da Internet, como nos bons e velhos tempos).
Entre as estratégias apresentadas num guia de orientação para docentes, entre outras, destacamos:
Discussão e colaboração
Incentivar debates presenciais sobre atividades de aula e leituras.
Tarefas reflexivas
Solicitar reflexões sobre dificuldades com conceitos específicos e como foram superadas.
Comparar diferentes métodos de resolução de problemas, destacando vantagens e desvantagens.
Conexões com o mundo real e local
Analisar acontecimentos de políticas recentes e suas implicações econômicas, com recomendações de melhorias.
Processo de desenvolvimento das tarefas
Estruturar tarefas em etapas (chuva de ideias, mapeamento, revisão por pares).
Incluir questões processuais, éticas e de criatividade.
Prompt da Semana
O Verbeteador
Escrevi este prompt para a realização de uma atividade que tradicionalmente passo para os alunos numa disciplina da graduação.
Basicamente é um "verbeteador", um elaborador de verbetes, que pode ser adaptado para qualquer área do conhecimento. Para conhecê-lo e usá-lo, acesse nossa biblioteca de prompts.
Momento de Reflexões
A grande questão é: se a IA está assumindo as tarefas de ler, compreender, sintetizar e redigir, o que "sobra" para o aluno? Como ressignificar esta tarefa, dentro de meus objetivos mais amplos?
"Estamos fazendo um chatbot baseado em Her"
"Você não vai copiar minha voz sem minha permissão, vai?"
"Você não vai copiar, certo?"
Integridade acadêmica, seja por "copia e cola", seja usando ChatGPT & afins nos leva a um questionamento que nem é tão recente: precisamos de uma mudança de paradigma na Educação.
Mas uma coisa interessante dos paradigmas é que eles são incompatíveis entre si. Ou seja, não se trata de uma "atualização" ou "modernização"; é sobre criar algo completamente diferente. Para reforçar, deixo a famosa imagem do coelho-pato:
"Imagens e vozes atraem a maior parte das controvérsias relacionadas a IA, mas as versões atuais que estão sob escrutínio são temporárias. Elas são etapas para modelos multimodais mais completos e integrados que virão em breve".
Ethan Mollick
Realmente dá o que pensar: o que estamos experimentando hoje, de graça ou praticamente, deve ser brincadeira, perto da capacidade real. Que assombros vêm por aí?
Sujando o Macacão
Enquanto não vem contribuições de vocês, conto um experimento realizado junto com as turmas de graduação, numa atividade que já foi aplicada no presencial, emergencial remoto e Educação a Distância: desenhar o conceito de educação.
Mas agora com a possibilidade de usar IA generativa, explicitando o prompt empregado, para manter o caráter reflexivo da proposta.




Os resultados não mostraram diferença significativa: uma pequena proporção de representações mais abstratas, a maior parte usando as metáforas tradicionais (caminho, montanha, árvores e plantas, livros, dispositivos de iluminação) e outra ainda mantendo uma relação com a educação formal (sala de aula, professores).
Pelo lado positivo, imagens visualmente impactantes, capazes de gerar uma resposta emocional e nenhuma queixa do tipo "não sei desenhar". Porém, notei a falta da rara parcela de representações extremamente abstratas, quase enigmáticas.
Você tem dúvidas, sugestões ou experiências para compartilhar relacionadas aos temas abordados nesta edição? Adoraríamos ouvir de você!
Não deixe de enviar seus comentários, relatos ou perguntas por meio de nossos canais de comunicação. Sua participação é o que alimenta esta jornada exploratória. Até a próxima edição!